segunda-feira, 29 de março de 2010

Cegueira Social

Do caminho de casa ao meu trabalho, no bairro de Campinas, preciso caminhar por apenas três quarteirões. Atravesso duas ruas, sempre na faixa de pedestre. Tenho poucos vizinhos, pois a maior parte das casas foram substituídas por lojas. Na verdade, isso é o que eu pensava. Como sempre caminho apressado por ali, demorei a conhecer os meus verdadeiros vizinhos.
Para enxergá-los, tive de fazer uma pequena viagem. Estive na capital federal numa tarde ensolarada de sábado. No canteiro central da Esplanada dos Ministérios está sendo montado o palco de um evento no qual irei trabalhar no mês que vem. A estrutura fica bem em frente ao Congresso Nacional, ao Itamaraty, ao Superior Tribunal de Justiça, aos ministérios da Educação, Saúde, Combate a Fome, Fazenda e, a poucos metros do Palácio do Planalto, percebi o quanto a distribuição de renda nesse país continua injusta.
De um lado, um grupo de jovens estava treinando rugby. Eu nem conhecia esse esporte: os atletas usam capacetes e roupas parecidos com o uniforme do futebol americano. Daquele lado do gramado onde estavam, havia muitos carros estacionados, a maior parte deles importados. Observei ainda que todos tinham pele clara e eram fortes.
Do outro lado, sob a sombra de três flamboyants, barracas de lona preta ostentavam uma bandeira vermelha estendida. Meninos negros e magros jogavam futebol com uma velha bola preta. Não havia um carro estacionado naquele lado do gramado.
Enquanto os primeiros se divertiam, os outros esperavam. Eles aguardavam ser vistos pelas autoridades que ali estavam, à sua volta, todos os dias. Mas não eram vistos... Da mesma forma como eu não enxergo os meus vizinhos, que todos os dias estão por ali, deitados nas portas das lojas, perto de minha casa... Eles dormiram ali, e dormem todos os dias. E eu ainda não os conheço.
Deus me livre desta cegueira!


Diego Joaquim Pereira de Sousa
5º Período de Jornalismo - Faculdade Araguaia

Um comentário:

  1. Muito interessante este texto. Faz alusão a uma realidade antiga e atual que precisa ser vista e encarada com um olhar de compaixão. Um olhar de quem enxerga um ser humano naquele que sofre nas ruas e becos. Parabéns pela postagem.

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